A Bíblia prova o que digo. Ao menos o trecho sobre Adão & Eva, o Jardim do Éden e talicoisa.
Você sabe o que digo: a Civilização é obra feminina. Estamos aqui,
vivendo em cidades, bebendo água em copos de plástico, usando cuecas,
comendo cheesecake, por causa das mulheres. ELAS nos convenceram de que
ia ser bom. Fosse por nós, homens, continuaríamos com a doce vida
nômade, a vida caçadora e coletora. Continuaríamos selvagens, como ainda
somos nos escaninhos mais remotos dos nossos corações. Continuaríamos
felizes.
Felizes, sim. Em primeiríssimo lugar, porque não havia trabalho.
Caçadas não podiam ser consideradas trabalho. Eram diversão. Os homens
saíam em bandos, cercavam um mamute lanudo, abatiam-no a pedradas e
golpes de tacape, e depois ficavam churrasqueando e contando vantagem.
Quando voltavam para a clareira onde haviam deixado as mulheres e os
filhos, elas, as mulheres, os esperavam com muitos frutos e raízes na
panela e pouca roupa no corpo rijo de fêmeas habituadas a longas
caminhadas. Os homens se sentavam em torno da fogueira, narravam suas
aventuras, agora com detalhes aumentados de façanhas e heroísmos, e
depois era aquela festa. Ninguém era de ninguém. Não existia monogamia,
não existia casamento, não existia fidelidade, não existia isso de
mulher ficar fuçando no celular do homem para descobrir quem ligou na
noite anterior.
Esse era o Paraíso. Não sou eu quem o afirma; é a Bíblia. Adão e Eva
eram caçadores e coletores. Eram nômades a vagar alegremente pela vasta
área do Jardim do Éden. Eram, como já disse, felizes.
O que aconteceu para que tudo se transformasse?
Aconteceu que a mulher fez o homem mudar.
A história está toda lá, nas entrelinhas da lenda do Gênesis. Quer ver?
Prova número 1: o que significa a maçã do conhecimento que Eva oferece a Adão?
Resposta: significa a Civilização.
Eva, a mulher original representando todas as mulheres originais,
convence Adão, o homem original representando todos os homens originais,
a se civilizar. O que, então, tem de fazer Adão? Tem de trabalhar, o
que, além de ser um apanágio da Civilização, é um castigo divino. Deus,
claramente, desgosta da Civilização. Queria o homem no Paraíso, nu,
desocupado e feliz.
Mas Adão deixou-se levar por Eva e já seus filhos são
civilizadíssimos: Caim é agricultor; Abel, pastor. São tão civilizados
que um mata o outro por inveja, uma das mais marcantes características
da Civilização.
Prova número 2: ao se civilizarem, Adão e Eva sentem vergonha de
andar nus e cobrem as partes pudendas com folhas de parreira. A imagem é
óbvia: com a Civilização, o sexo, antes livre e sem culpa, torna-se
tabu. Agora, o sexo não é mais diversão. É pecado.
Tudo por causa da mulher.
Nós homens, nós fomos domesticados. A centelha de liberdade selvagem
que ainda subsiste no fundo de nossa alma, essa centelha só reluz em
momentos especiais. Um deles é o esporte. Sobretudo o futebol, uma
reprodução da vida gregária dos tempos do nomadismo, quando os homens
saíam em bandos para encontrar alimento, sim, mas principalmente para se
divertir. O futebol serve para esse extravasamento da alma masculina.
Serve para a diversão. Para que voltemos às origens.
Vendo as cenas do Maracanã lotado com Vasco versus Fluminense, os
cariocas rindo e brincando, vi ali a essência do futebol. Vi ali a
diversão pura. E a invejei. O belicismo amargo de gremistas e colorados
não tem nada a ver com diversão, não tem nada a ver com nosso espírito
ancestral de camaradagem e lealdade masculina. Não. Essa disputa tensa e
cansativa é típica da Civilização inaugurada com o homicídio de Abel
por Caim. É maniqueísta. É tola. E, pior, não é nada divertida.
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