sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Papo cabeça com Nereu




Final de tarde na Londres Catarinense, chuva caindo de mansinho como um lenço de seda rasga a atmosfera até chegar ao solo. Neste verão que mais parece outono, caminho pelas calçadas centrais, observando nossa arquitetura europeia do início do século 20.
Deixei pra trás a “Cathedral”, uma anciã nos dias hoje com templos gigantescos de algumas religiões. Ao dobrar à esquina do antigo Café Ouro, onde reuniam-se “os bois de botas” para discutir política e tomar um bom café, encontro nosso mais ilustre cidadão, Nereu Ramos!
- Nereu, Nereu...
- Boa tarde ou boa noite como queira...
- Que difícil te encontrar, ainda mais nesses dias!
- Que dias meu jovem!?!
- Dias turbulentos que nos afligem. Somos cidadãos catarinenses a mercê de uma política incipiente e...
- Calma meu filho! É por isso que estou aqui.
- Não entendo?!
- Voltei pra averiguar o andamento da nossa política. É bem verdade que estou afastado já faz alguns anos, mas voltei pra me atualizar.
- Bem, espero que esteja com à saúde em dia!
- E por falar em saúde, como está?
- Nos prometeram um hospital novo nas últimas eleições, lá na capital. Falta hospital em todo o estado, faltam médicos e enfermeiros, além de equipamentos.
- Não acredito! Quando era “interventor do estado” em locais onde não possuía hospitais, colocava médicos e “parteiras” para toda a vila.
- É, e naquele tempo era difícil conseguir médicos...
- Muito difícil mesmo, porque pra estudar medicina a pessoa deveria sair de casa e ir para São Paulo ou Rio de Janeiro. Ainda é assim por aqui?
- Não, não!!!
- Mas então porque faltam médicos para pessoas doentes?
- Pois é Nereu, todo mundo se pergunta isso. Temos várias escolas de medicina espalhadas pelo estado e mesmo assim há vagas.
- Que contrassenso, né! E por falar em escolas, como vai a educação e cultura no nosso estado?
- Vão de mal a pior!
- Mas que bagunça andaram fazendo quando estive fora...
- É Nereu...educação e cultura perderam espaço já faz um bom tempo.
- Quando era “Interventor do Estado”, sempre conversava com quem entendia do assunto, conversava com Cruz e Souza, Thiago de Castro troquei cartas até com Érico Veríssimo. E naquele tempo mandar uma carta demorava semanas e o pior era ficar esperando a resposta, isso sim me matava, sou curioso e angustiado. Hoje em dia demora pra vir as cartas?
- Hoje o sistema mudou um pouco...trocamos cartas de papel por e-mail.
- I...o que isso!
- Deixa pra lá, outro dia te conto. Mas a informação hoje é mais rápida.
- Quando queria fazer algo, como construir uma escola ou melhorá-la, à cavalo, de navio, mandava carta, telegrama. E hoje, que é mais fácil como está me dizendo, porque há tantos problemas? O que estão fazendo com esse estado que amo tanto!
- Nossos políticos competem por audiência, por fama, dinheiro, tornam-se celebridades e povo...
- Já estou vendo meu filho, já estou vendo!!!
- É Nereu, bons tempos àqueles seus em que podíamos confiar em políticos...


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