Final de tarde na Londres
Catarinense, chuva caindo de mansinho como um lenço de seda rasga a atmosfera
até chegar ao solo. Neste verão que mais parece outono, caminho pelas calçadas
centrais, observando nossa arquitetura europeia do início do século 20.
Deixei pra trás a “Cathedral”,
uma anciã nos dias hoje com templos gigantescos de algumas religiões. Ao dobrar
à esquina do antigo Café Ouro, onde reuniam-se “os bois de botas” para discutir
política e tomar um bom café, encontro nosso mais ilustre cidadão, Nereu Ramos!
- Nereu, Nereu...
- Boa tarde ou boa noite como
queira...
- Que difícil te encontrar, ainda
mais nesses dias!
- Que dias meu jovem!?!
- Dias turbulentos que nos
afligem. Somos cidadãos catarinenses a mercê de uma política incipiente e...
- Calma meu filho! É por isso que
estou aqui.
- Não entendo?!
- Voltei pra averiguar o
andamento da nossa política. É bem verdade que estou afastado já faz alguns
anos, mas voltei pra me atualizar.
- Bem, espero que esteja com à
saúde em dia!
- E por falar em saúde, como
está?
- Nos prometeram um hospital novo
nas últimas eleições, lá na capital. Falta hospital em todo o estado, faltam
médicos e enfermeiros, além de equipamentos.
- Não acredito! Quando era
“interventor do estado” em locais onde não possuía hospitais, colocava médicos
e “parteiras” para toda a vila.
- É, e naquele tempo era difícil
conseguir médicos...
- Muito difícil mesmo, porque pra
estudar medicina a pessoa deveria sair de casa e ir para São Paulo ou Rio de
Janeiro. Ainda é assim por aqui?
- Não, não!!!
- Mas então porque faltam médicos
para pessoas doentes?
- Pois é Nereu, todo mundo se
pergunta isso. Temos várias escolas de medicina espalhadas pelo estado e mesmo
assim há vagas.
- Que contrassenso, né! E por
falar em escolas, como vai a educação e cultura no nosso estado?
- Vão de mal a pior!
- Mas que bagunça andaram fazendo
quando estive fora...
- É Nereu...educação e cultura
perderam espaço já faz um bom tempo.
- Quando era “Interventor do
Estado”, sempre conversava com quem entendia do assunto, conversava com Cruz e
Souza, Thiago de Castro troquei cartas até com Érico Veríssimo. E naquele tempo
mandar uma carta demorava semanas e o pior era ficar esperando a resposta, isso
sim me matava, sou curioso e angustiado. Hoje em dia demora pra vir as cartas?
- Hoje o sistema mudou um
pouco...trocamos cartas de papel por e-mail.
- I...o que isso!
- Deixa pra lá, outro dia te
conto. Mas a informação hoje é mais rápida.
- Quando queria fazer algo, como
construir uma escola ou melhorá-la, à cavalo, de navio, mandava carta,
telegrama. E hoje, que é mais fácil como está me dizendo, porque há tantos
problemas? O que estão fazendo com esse estado que amo tanto!
- Nossos políticos competem por
audiência, por fama, dinheiro, tornam-se celebridades e povo...
- Já estou vendo meu filho, já
estou vendo!!!
- É Nereu, bons tempos àqueles
seus em que podíamos confiar em políticos...
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