sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Hino Brasileiro (Seleção)



Por Luiz Guilherme Piva*


1. Ipiranga
Falta água.
Melhor, menos, que se espalhe
pela malha de veios do subsolo
e irrigue o mapa, o território, golfeje.
Artérias, dutos de água,
da vida que há nas águas,
caudalosas, densas, veredas.
Vida límpida,
que se veria de muito alto
correndo azul
sob a pele do relevo.

2. O povo
De heróis,
de malandros, de indiferentes,
de ora de um jeito, ora de outro,
de muitos jeitos ao mesmo tempo.
Como todos e todos os povos.
Aliás, não povos, mas gentes.

3. O brado
Há gritos que explodem no ar,
que vibram no espaço e no tempo,
pairam nítidos e audíveis
– relâmpagos.
Outros que não retumbam:
são lançados adentro,
ruminados no oco vil
do estômago.

4. Céu da pátria
Como se fora possível
recortar no firmamento
os contornos do torrão
– e o desenho da harpa suspensa
guardasse a liberdade e a fartura
que faltam a seu molde no chão.

5. Braço forte
Desafia no teu tórax
a desigualdade cínica
e afirma a dignidade
seja a cérebro
seja a bíceps

6. O sonho
Meu filho na entrada da área,
meia-esquerda, de sem-pulo,
a bola voa e estoura
no ângulo.

E vibrar como um dia
meu pai pulando na sala
com o coração do Brasil
estufando a rede
de Guadalajara.

7. Colosso
Machado;
Mário, Rosa, Drummond e Cabral;
Pixinguinha, Villa e Noel;
Chico e Veríssimo;
Pelé.

8. Mais garrida
Mestiça,
vestido de flor.
Dourada,
saindo do mar.
Negra,
os olhos solares.

E as meninas brejeiras
nas ruas do interior.

9. Campos
Falta terra.
Melhor, menos, que se divida,
feita gomos de rede sobre o solo,
que cubram o mapa, o território, vicejem.
Plantas, fontes de comida,
da vida que há na comida
nascida a cada colheita.
Vida digna
que entraria muito fundo
injetando verde
na carne do relevo.

10. Lábaro
Agora, doutor,
orgulho mesmo que eu sinto
é ver bem encaminhado
o meu menino do meio
– aquele rapagão espigado
com a calça azul na canela
e a camisa amarela,
imponente,
dos Correios.

11. Filho teu
Se chamas os teus filhos à injustiça,
ao opróbrio, à vida desumana,
teus filhos negarão os teus reclamos
ostentando galhardia insubmissa.
Se acenas com grilhões e só atiças
teus filhos com bordão e força bruta,
verás que nossa gente, resoluta,
prefere, nessa hora, a própria morte.
Mas se ergues da justiça a clava forte,
verás que um filho teu não foge à luta.
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*Luiz Guilherme Piva fica olhando o horizonte do Brasil.

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