quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Mestre Hobsbawn e 10 vantagens da feiura





Tudo bem, não me conformo com feiúra sem acento, mas vamos jogar o jogo do acordo transatlântico.

O professor Eric Hobsbawn, que sempre amarei, morreu, e não escrevi nada sobre tal sábio. Falha quase de caráter.

Agora releio “Bandidos”, livro dele que me fez, inauguralmente, amá-lo, um libelo que trata do banditismo por questão de classe, como sampleou Chico Science.

Eis que encontro outro professor, o amigo André, torcedor do Operário(MS), 3º lugar no Nacional de 1977, cabra das ciências da FGV. Ele me alerta, ali no belo caos da Mercearia São Pedro, sobre como a fealdade pode render uma grande obra.

Em sua auto-biografia, Tempos Interessantes, Hobsbawn diz, desavergonhadamente, que só se dedicou aos estudos por ser o aluno mais feio da turma.

Entendo muito o que falas, mestre.

A feiura é a maior vantagem de um homem sobre a terra. Relembro ai, em tua homenagem, nobre Hobsbawn, um decálogo que escrevi tempos atrás sobre o assunto. O feio e o bonito que já leram, desconsiderem, mas careço repeti-lo:

I) Saiba, amigo, que a beleza é passageira e a feiúra é para sempre, como repetia o mal-diagramado Sérge Gainsbourg –o francês que só pegava mulher fraca, como a Brigitte Bardot e a Jane Birkin, entre outros colossos. Sim, aquele mesmo francês cabra-safado autor do maior hino de motel de todos os tempos, “Je t´aime moi non plus”, claro.

II) Saiba que as mulheres, ao contrário da maioria dos homens, são demasiadamente generosas. E não me venha com aquela conversinha miolo-de-pote de que as crias das nossas costelas são interesseiras. Corta essa, meu rapaz. Se assim procedessem, os feios, sujos e lascados de pontes e viadutos não teriam as suas bondosas fêmeas nas ruas. Elas estão lá, bravas criaturas, perdendo em fidelidade apenas para os destemidos vira-latas.

III) Saiba que o feio, o mal-assombro propriamente dito, saiba também e repita um velho mantra deste cronista de costumes: homem que é homem não sabe sequer a diferença entre estria e celulite.

IV) Saiba que mulher linda até gay deseja e encara, quero ver é pegar indiscriminadamente toda e qualquer assombração e visagem que aparecer pela frente.

V) Saiba que homem que é homem não trabalha com senso estético. Ponto. Que não sabe e nunca procurou saber sequer que existe tal aparato “avaliatório’’do glorioso sexo oposto.

VI) Saiba que as ditas “feias” decoram o Kama Sutra logo no jardim da infância.

VII) Saiba que para cada mulher mal-diagramada que pegamos, Deus nos manda duas divas logo depois de feita a caridade.

VIII) Saiba que mulher é metonímia, parte pelo todo, até na mais assombrosa das criaturas existe uma covinha, uma saboneteira, uma omoplata, um cotovelo, um detalhe que encanta deveras.

IX) Saiba que me desculpem as muito lindas, mas um quê de feiúra é fundamental, empresta à fêmea uma humildade franciscana quase sempre traduzida em benfeitorias de primeira qualidade na alcova, como o melhor sexo oral do planeta, para não esticarmos demais a prosa.

X) Saiba, por derradeiro, irmão de feiúra, que a vida é boxe: um bonitão tenta ganhar uma mulher sempre por nocaute, a nossa luta é sempre por pontos, minando lentamente a resistência das donzelas.



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