sábado, 1 de março de 2014

Moral provisória: chifre de Carnaval não conta






Seguimos na mesma pegada lírico-momesca, caro Zé Cláudio, cronista-mor de Pernambuco que, por acaso, e jamais só por isso, ilustra esse blog manhoso e pé-de-lã.

José Cláudio, você sabe lá o que é isso? Um gênio das artes, que orgulho, procure saber, cambada de corno (rs).

Recebi exatas 52 consultas sobre como conviver com o barraco dos casais cujas carnes são carnavais.

Amo confiarem tanto num cronista vagabundo cujo lema sempre foi “só o vento sabe a resposta”.

Lindo demais e que seja assim por toda a vida, amor mais nada pedirei, como cantava o comovente Nilton César.

Só me resta repetir velhas lições para o leitor que chegou agora:

O código da moral provisória foi inventado pelo enfezado Jean-Paul Sartre, aquele filósofo francês que queria comer todas as alunas e carecia de uma desculpa intelectual para a coisa. O colega Caio Túlio Costa, no seu livraço “Ética, jornalismo e nova mídia”, que me ensinou essa parada, algo assim como “lavou tá novo”.

Sim, amigo, Carnaval sempre foi um perigo para os pombinhos que resolvem brincar juntos. Sempre a favor do amor e da paz nos lares doces lares, este cronista deixa algumas dicas úteis – e outras nem tanto- para os foliões que se arriscam de mãos dadas na festa da carne.

Concordo: a missão é quase impossível.

“Só se forem brincar em um baile de casa de swing”, corneta aqui um amigo urso pé-de-lã, cético no último. “Utopia, meu caro”, diz o outro, homem sério e ainda enfeitado com as serpentinas de um trauma antigo. “Calma, senhores”, tento amansar os cavalheiros da nossa távola.

Até que aparece a primeira dica, com o humor que a ocasião nos pede:

“Aprenda a abraçar seu amor de forma satisfatória com apenas um dos braços, já que a outra mão vai ter uma cerveja sempre”, aconselha o estratégico Rodolfo Barreto, o único da mesa que pode ser identificado sem problemas.

O mesmo camarada alerta sobre o capítulo das fantasias. É recomendável que o casal saia às ruas ou aos bailes sempre vestido de fantasias complementares, como Adão e Eva, por exemplo. Ou Adão e a cobra. Tabém vale.

Agora uma moça se intromete lindamente na conversa. Ótimo, assim não fica uma visão tão porco-chauvinista:

“O ideal é se perder do bloco, depois se encontre de trombada e beije seu namorado como se estivesse beijando alguém que nunca viu em uma micareta na vida”, diz a danada, clássica diabinha, afe paudurescência da gota serena.

Há também quem acredite existir uma única fantasia possível para os enamorados: um se veste de paciência; o outro de compreensão. E segurem a onda para que as máscaras não caiam diante de possíveis tentações avulsas. Nada fácil.

Não é à toa que muitos casais preferem o sossego de uma praia, a mais sábia das decisões. Principalmente para quem já correu muito atrás do trio elétrico e do Galo da Madrugada.

Otimista qual uma Pollyana fanática, eu acredito na celebração conjunta. Palavra de quem já viveu o inferno de brincar juntos, mas também encarou, na boa, e com muito amor, até o inferninho brega e fogoso do I Love Cafusú no Preto Velho, Olinda.

E depois, evidentemente, o baile mais quente e joiado do pedaço: “Seguranças de Lala K”, pense na raparigagem. Culpa, óbvio uluante, minha criança, do Felipe Machado –soube que anda pensando em virar a tapioca para o Santinha, minha gente, vê se phode!

Sim, existem os espertinhos(as) que arranjam uma briga ainda na véspera. São os piores: crime premeditado.

Pior mesmo é tentar bancar o casal moderno e fazer o pacto da carnificina. Aquele em que cada um brinca em um canto da cidade ou em Estados diferentes.

Terrorismo amoroso na certa. Fica o suspense e um sofrimento medonho. Carece muita evolução ou safadeza propriamente dita para segurar essa bronca.

E entre os mascarados papangus de Bezerros?

Ninguém é de ninguém mesmo. Pense num terrorismo amoroso, pense em um suspense à Hitchcock.

Amar é… lindamente não ter certeza das coisas. No amadorismo do carnaval ou no resto da vida que nos sobeja.

Pombinhos, paz na terra aos homens de boa vontade. E se rolar algum acidente, dêem aquele desconto necessário, afinal de contas chifre de Carnaval não dói nem enxovalha a honra de seu ninguém. Acontece.

As cinzas da quarta, reza a cartilha religiosa, ungem lindamente as nossas testas, amém.

Evoé, Baco!

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